Será que ainda existem benfiquistas que queriam continuar a ver os jogos do Benfica na Sporttv?
Será que ainda existem benfiquistas que não queriam que a Benfica TV fosse paga?
Leiam um excerto da crónica do Rui Santos. E ele não é benfiquista, como se verifica na parte final da mesma, e mesmo assim louva o aparecimento do canal para acabar com o monopólio das transmissões televisivas.
«Começou a Liga portuguesa 2013/14, que corresponde ao ano I de um
novo ciclo que promete dominar as conversas dos adeptos nos próximos
meses e até nos próximos anos: a transmissão dos jogos realizados no
Estádio da Luz pela Benfica TV. Vai ser um pouco estranho ver um um
Benfica-Sporting ou um Benfica-FC Porto na Benfica TV (em ambos os
casos, isso só acontecerá, curiosamente, na segunda volta do
campeonato), mas as pessoas habituam-se, até porque não acredito que
sportinguistas e portistas deixem de ver esses grandes jogos, só porque
são transmitidos pela canal televisivo de um dos seus crónicos
adversários. E se, debaixo do regime de austeridade a que quase todos
estamos sujeitos, este novo quadro de consumo obrigue portistas,
sportinguistas e adeptos de outros clubes a deslocarem-se para as casas
dos benfiquistas para assistirem aos jogos (sem pagar), talvez se possa
ambicionar, no mínimo, a um maior entendimento e convivência entre
simpatizantes de clubes rivais, o que seria muito bom para uma maior
disseminação do “espírito desportivo” e do fair play...
Temos,
portanto, uma nova realidade, que colocou em causa, finalmente, o
monopólio da Olivedesportos. Sabem os leitores mais atentos, e aqueles
que me seguem com maior regularidade nos comentários públicos, da minha
oposição à fermentação dos efeitos deste monopólio.
O regime
limitou-se a aproveitar aquilo que o deixaram fazer (os clubes, o Estado
e a Banca), mas é bom de ver que, com o passar do tempo e com a
acumulação de prejuízos na área do futebol profissional, o “oliveirismo”
transformou-se numa espécie de grande “central de influências”, com
clara prevalência não apenas nos clubes (mesmo até no Benfica), mas
também na FPF, na Liga e no tecido político-partidário. O Benfica,
considerando a dimensão da sua marca, não só não ganhou nada – no plano
financeiro – comparativamente a outros emblemas, como foi no engodo de
uma certa dialéctica que teve o condão de proporcionar diversas
vantagens ao FC Porto. A hegemonia do FC Porto foi construída em cima do
tapete da Olivedesportos. Mérito (até certo ponto) do FC Porto e da
Olivedesportos e demérito do Benfica, que cumpriu o papel de “mulher
enganada” durante muitos e longos anos.
Sou a favor do sistema
de centralização dos direitos televisivos, através da Liga ou de uma
outra solução tutelada pelos clubes, e, portanto, gostaria que a
concorrência se estabelecesse através de mecanismos mais amplos e mais
plurais. Não sendo possível, este cenário que ora se coloca, da Benfica
TV x Sport TV, é bem melhor do que a perpetuação do monopólio. Mas este
cenário, sendo melhor do que o anterior, suscita desde logo muitas
interrogações, sobretudo a quem não é do Benfica ou não vê o futebol de
uma forma absolutamente unilateral.
A questão que vai ser mais discutida tem a ver com o tratamento das
imagens e com os critérios editoriais subjacentes à (não) apresentação
dessas imagens, as quais podem ser decisivas para classificação dos
árbitros e também para a aplicação de castigos, na esfera disciplinar.
Dirão os benfiquistas e os seus responsáveis que isso já acontece com a
Sport TV. Mesmo aceitando esse facto como (meio) verdadeiro, o Benfica
tem aqui uma oportunidade de ouro para não fazer aquilo que tanto
criticou no passado, uma vezes com razão, outras vezes sem ela...
Em
caso de polémica – e o assunto tem tudo para suscitar amplas
polémicas... – quem vai assumir o papel de regulador? A Liga? A FPF? A
ERC? Parece-me claro que está tudo à espera que impere o bom senso dos
responsáveis do Benfica. E... se não houver bom senso?
A
primeira jornada da Liga 2013/14 concentra a maior parte dos jogos para
este domingo, à tarde. É uma boa notícia, que privilegia a vontade da
maioria dos adeptos. O futebol deve ser defendido como um desporto para a
família e os jogos, na medida do possível, sem esquecer as
condicionantes europeias, devem ser realizados ao fim de semana. O
Sporting de Bruno de Carvalho defende esse princípio e o Benfica, dono
dos seus direitos, forçou a estreia na Luz (para o campeonato), no
domingo, 25, às 17.45, frente ao Gil Vicente.
O “oliveirismo”
não deu tréguas em relação a esta matéria: usou e abusou dos
calendários, de sexta a terça-feira. Em nome da suposta protecção do
“negócio”. Um certo negócio. Sem nenhum respeito pelo consumidor.»